quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O Dilema

Mestre Rafael, você não falou que ia ter mulher pelada nessa droga? Cadê???!!! Pois meus amigos, vocês não sabem. Vejam como é a vida. Tenho um grande amigo que recentemente se voltou ao catolicismo. Ele é formado em jornalismo e escreve muito bem, nossas conversas sempre rendem frutos para um e para outro. Pois pedi que ele se tornasse colaborador da revista, o que no princípio ele aceitou com entusiasmo. Acontece que junto com o primeiro texto ele me manda o seguinte e-mail:

"Meu caríssimo Rafael
Envio o texto como prometido, mas te faço um apelo. Espero que entenda que se trata de uma questão de consciência. Eu não posso participar da Til se ela publicar imagens eróticas. Peço sua compreensão como acho que nunca pedi. Por favor, não entenda isto como uma censura ou uma pregação. Mas se eu fizer isso, eu teria que me acusar num confessionário, pois colaborei com uma proposta sobre a qual minha consciência discorda da correção.
Faço um humilde apelo de que homenageemos a mulher com imagens de moças bonitas vestidas, que na net não faltam (...) se eu creio firmemente num criador ao qual presto contas e a quem não posso ofender, a mão se recusa a ir adiante e a vontade deve ceder.
Sei que isso te obrigaria a mudar um plano original e ferir o plano editorial de tua revista. Se não for possível atender a meu pedido nem precisa se explicar é só dizer "não" e nossa amizade continua como antes. Sei que você deve levar as mão à cabeça agora: "por que a vida é tão difícil!"
Abaixo vai minha contribuição. Julgue se vale a pena..."

Minha resposta:

"Meu caro, estou pensando na sua proposta. Confesso que quando li seu e-mail achei graça. Não por deboche, mas por julgar que a questão era mais simples do que você parecia achar. Quebrei minha cara. Ela foi adquirindo proporções monstruosas na minha cabeça. Eu tô até assustado!
Por um lado não me custaria nada simplesmente não postar mulheres nuas. Ou melhor, fotos. Postar mulheres nuas ainda não é possível. Mas por outro eu começo a pensar coisas. Trata-se de uma questão pessoal sua que eu compreendo perfeitamente. Mas eu não posso abraçar a sua causa. Simplesmente porque não faz o menor sentido pra mim.
Vamos entrar um pouco na velha conversa sobre isso ser ou não uma exploração leviana do corpo feminino. Uma foto de um inseto ou do Cristo Redentor é o quê? Uma exploração? Por quê? Porque eles não tem como se defender da exposição? Mas se defender de quê? Para mim o corpo feminino e a estátua têm o mesmo valor estético (tá, confesso, tenho minhas preferências). A imagem de uma mulher nua não me levanta questionamentos, não me traz nenhuma carga moral. Pode até trazer dependendo do caso, mas a imagem de um trator também pode. Depois de meia hora de discussão concordaríamos que aquilo instiga o homem para o ato sexual. Mas e aí? O sexo não tem também valor moral negativo pra mim. Não tem nada de errado. Pelo menos entre dois adultos.
Aceito que você me dê esse ultimato como espero que você aceite minha resposta. Mas eu sempre achei que o ultimato tem algo errado. Não se trata de uma simplificação do ditado “os incomodados que se retirem”. Se os incomodados têm um bom argumento, sua opinião deve prevalecer e os “incomodadores” é que têm que se retirar. Mas você sabe que pra mim o seu argumento não serve. Serve pra ti, Helder. Tu pode até acreditar que essa é a grande verdade divina e olhar para mim com a mesma pena com que eu olho pra um fã da Madonna, mas eu sinto que posso explicar concretamente os motivos pelos quais a música que eu admiro é melhor que a dela. E posso explicar sem pedir para a pessoa simplesmente acreditar em mim. Sem pedir pra ela simplesmente aceitar aquilo. E sem dizer a ela que se ela não acreditar é porque lhe falta alguma grande compreensão da sua própria dimensão interna e da natureza do universo. Eu posso mostrar com as mãos, com os dedos, com uma folha de papel.
E aí tem outra questão. Se você não gosta não olhe! Você sempre vai ter essa opção. Você não está escrevendo sobre aquilo e nem divulgando. Seria como sair de um cinema porque tem um casal se esfregando lá dentro. Você poderia, teoricamente, conviver com isso sem se sentir tentado a olhar, mas não pode obrigar os outros a lhe seguir. Enfim, a minha atitude lhe dá liberdade, enquanto a sua me gera obstáculos. Pois lembre-se que as fotos serão pautadas pela qualidade plástica, não pela dose de erotismo. O vulgar não terá vez, e o erótico deixará de ser erótico.
Não me custa nada aceitar isso, mas se tu começar a fazer essas coisas, daqui a pouco vai dizer que tem que se desligar de mim pelo simples fato de eu manter relações sexuais sem propósitos reprodutivos. Você dirá que é aí que entra o bom senso, que você jamais faria isso e tal. Mas se você pensar bem a questão é a mesma.
Enfim, é uma discussão estéril. Isso nunca vai a lugar nenhum, mas por enquanto temos um problema prático nas mãos. Uma escolha. Cedo eu ou cede você. Um religioso que se preze jamais cede, lógico, o que deixa a decisão toda pra mim.
Ainda estou pensando, confesso que meio perdido. Mas vamos com calma que tudo se ajeita. Só o que me importa é saber que qualquer que seja a minha decisão a nossa amizade continuará intacta. Com isso eu posso contar, não é?

Grande abraço e que a luz caia sobre nós.

Rafa"

Perguntei a ele se poderia publicar os e-mails, pois acho que geram um bom debate. Ele autorizou. Contanto que eu não publique foto de mulher pelada.
Não perca os próximos capítulos desta dramática novela e veja qual será minha decisão.

2 comentários:

Unknown disse...

eu voto pela publicacao de mulher pelada. de foto de mulher pelada, digo.

herlder, meu fi! va arrumar o que fazer! deus eh mais que isso!

Unknown disse...

eu voto pela publicacao de mulher pelada. de foto de mulher pelada, digo.

herlder, meu fi! va arrumar o que fazer! deus eh mais que isso!