quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Argonautas tocam Tom Jobim - Surf Board

Uma música instrumental do Tom Jobim, também do show "Argonautas Convidam", em julho de 2007.

Argonautas e Fhátima Santos - A Voz do Morro

Show "Argonautas Convidam", que fizemos em julho de 2007. Convidamos a Fhátima Santos para cantar "A Voz do Morro", de Zé Keti, com a gente. Essa mulher canta tanto que estremece o teatro.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Bach - Toccata e Fuga BWV 565 - Karl Richter

A Tocata e Fuga em Ré menor é uma peça batida. A "músiquinha do Fantasma da Ópera". Mas senhoras e senhores, isso é Bach, talvez o maior compositor da história. E esta peça é tão genial que você pode passar 10 anos escutando apenas ela sem se cansar.
A Tocata, uma forma de composição bem livre, é dramática e solene, com pausas de efeito e cores eloqüentes.
Já a Fuga (que começa aos 3 min. e 11 seg.) é o oposto, absolutamente técnica e complexa, mas com uma atmosfera até mais leve.
O órgão é um instrumento poderoso, complicado e belo. Nesse caso tem 4 teclados e mais o pedal, que faz os sons mais graves. No começo vocês não vão entender o cidadão prostado ao lado do organista, mas ele cuida das válvulas que modificam o trimbre do instrumento. Profissão inglória:

- O que é que o senhor faz?

- Eu manipulo o órgão de Herr Richter.


Ainda sobre Stockhausen

Flo Meneses é um compositor que dispensa apresentações. Não porque ele é muito famoso, mas porque ele mesmo costuma se apresentar. O cara é o maior fã dele mesmo. Ele escreveu sobre a morte do Stockhausen e conseguiu falar mais sobre si mesmo do que sobre o morto.
É um cara radical, pelo que eu ouvi falar. Daqueles vanguardistas que simplesmente invalidam qualquer coisa que seja contra sua opinião. Nesse texto dá pra ter uma idéia disso, ele sugere que o que não é de vanguarda, é retrógrado e medíocre. Assim é muito bom! Se você não gostar da música do cara, você é idiota! Mas ele é um compositor completo, sua formação musical deve ser impecável, é com as suas opiniões sobre estética da arte que eu não concordo. Pelo menos com o que li e ouvi até agora.
Bom, eu ainda vou escrever um artigo mais esclarecedor das minhas opiniões sobre vanguarda e modernidade, mas por enquanto dêem uma olhada no texto. É curtinho.

http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2937,1.shl

Psicologia

Psicólogo de colégio é uma coisa engraçada. Eles entram na sala de aula no começo do ano e fazem aquele discurso clássico:
"Eu quero que vocês fiquem sabendo que para qualquer problema que tiverem, vocês têm um amigo aqui que pode lhes ajudar."
Uma vez meu irmão me contou de uma que foi falar para a turma dele. Mesmo discurso, aquela tentativa de desmitificar a profissão e ao mesmo tempo de ganhar a cumplicidade dos alunos. Lá pelas tantas ela soltou uma frase inesquecível:
"... porque psicólogo não é médico de doido. Médico de doido é psiquiatra."

sábado, 8 de dezembro de 2007

Stockhausen

Bom, como esta revista se dedica especialmente à música, ficaria chato eu não mencionar a morte do compositor Karlheinz Stockhausen. É que eu não me sinto atraído pela música de vanguarda. Aliás, minha personalidade rejeita qualquer tipo de vanguarda. Eu não consigo me livrar da impressão de que muito do experimentalismo que se faz é vazio.
Mas magnífico Rafael, você não estuda composição? Como é que alguém estuda composição sem estudar Stockhausen?
Eu não disse que não vou estudar isso. Mas meu interesse musical morre onde os compositores começam a colocar a música em segundo plano. Quando o cara faz uma peça para quarteto de cordas e helicópteros, isso não me atrai. É engraçado, é "doidinho", é "moderno", é "cabeça", mas tem significado? Para mim não. Se tem para você, tudo bem. É que eu já vi muita gente esculhambar Beethoven, desprezar Bach e dizer que música só é música quando "desconstrói" ou sei lá o quê. Stravinsky e Bartók desconstruiram, mas com cuidado. Tiraram alguns tijolos e fizeram seus prédios em cima. Isso me convence. Mas deixar tudo em ruínas e tacar helicópteros em cima, não.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Beatriz - Monica Salmaso e Pau Brasil

Mônica Salmaso é uma cantora impressionante. Ela cantando Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque) é a coisa mais perfeita desse mundo. Pega você pela mão e lhe leva ao sétimo céu. E eu descobri como é que ela faz isso. É que ela tem uma glândula especial que produz doce de leite nas cordas vocais. Assim, também, até eu!

Arvo Pärt - Silouans Song

Um pouco da música do Arvo Part. Tudo bem, quando o cara faz música assim, com esses acordes, essas cores escuras, esse tom triste, é fácil a gente dizer que aquilo é profundo. Mas nesse caso é mesmo. É música minimalista, mas é um minimalismo interessante, que não se pauta na repetitividade, mas na economia de recursos, simplesmente.
Eu escolhi um exemplo só de áudio, que é pra vocês escutarem de olhos fechados... Mentira, é porque eu não achei um com vídeo. Mas vejam que beleza.

Riga


Uma história curiosa: um dia eu estava jantando e o nome “Riga” me veio à cabeça. Eu nunca tinha pronunciado esse nome, não sabia sequer onde o tinha escutado. Mas de algum modo sabia que era uma cidade e que era linda. Pois foi na Wikipedia que eu descobri que Riga era a capital de um país báltico: a Letônia. Fiquei obcecado por Riga, vi fotos da cidade, desejei conhecê-la como nunca havia desejado conhecer uma (e ainda desejo).

Agora voltamos no tempo, possivelmente uns oito anos atrás. Estava eu na Desafinado (uma loja de discos) quando vi o CD do violinista Gidon Kremer. O disco se chamava “From My Home: Music From the Baltic Countries” e a capa era uma bicicleta em uma praia báltica. A praia era desolada e a bicicleta, triste. Como tristeza é comigo mesmo, comprei o disco, num ato de bravura não inédito (era caríssimo). Desde então “Báltico” pra mim é uma palavra mágica. Pois bem, nesse disco, uma das obras que mais me chamaram a atenção foi “Fratres” de um sujeito estoniano chamado Arvo Pärt.

Voltamos a novembro de 2005. Eu estava em São Paulo e no auge do meu entusiasmo por Riga. Como passava o dia fazendo coisa nenhuma, ficava no computador baixando música no Lime Wire. Foi quando a mesma vozinha (de voz, não de vó!) que me fez comprar o disco oito anos antes e que me sussurrou o nome “Riga” em um jantar começou a murmurar “Arvo Pärt”... No Lime Wire descobri dezenas de obras do cara. Ele segue uma corrente que alguns chamam de “minimalismo sacro”, com referências profundamente religiosas. Trata-se de uma obra altamente acessível, fácil de gostar, mas isso não a torna banal, há uma profundidade ali com que os outros minimalistas nem sonham.

Agora digam-me: é ou não é uma coisa fantástica? Isso de eu do nada sentir uma curiosidade que me leva a uma região do globo que nada tem a ver com a nossa? E a um compositor desta mesma região que misticamente está ligado a mim, mas com motivações tão distintas das minhas? Só sei de uma coisa: eu ainda irei a Riga.

E bunda de anjo, pode?


Minha mãe tinha uma coleção de livros de bolso da Editora Abril, cada um dedicado a um pintor. Tinha uma biografia e muitas obras comentadas. Depois de ler, fiquei com a impressão de que a história da pintura passava direto do barroco para o modernismo. Ao contrário da música, que tem um número impressionante de representantes no século XIX, na pintura eu só ouvia falar de Goya e Delacroix.
Mas um dia minha mãe me pediu para descobrir quem era o pintor da imagem da capa de uma Veja antiga. A revista não fazia nenhuma referência à autoria da obra. Depois de um tempo, graças às minhas incríveis habilidades investigativas, acabei descobrindo o nome do danado. William-Adolphe Bouguereau, um artista acadêmico francês. É dele essa pintura aí ao lado. E também essa, que eu coloquei no painel da capa do blog.
É impressionante a sutileza do trabalho desse artista, ele sozinho já colocaria a pintura romântica no mapa. Mas ele não está sozinho. Pesquisando sobre arte acadêmica descobri uma lista de pintores tão geniais quanto ele. Dêem uma olhada, a vida fica mais legal depois disso.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Peraí, deixa eu me explicar

Antes que digam alguma coisa, eu não tenho pena de quem gosta da Madonna, foi o calor da discussão. Eu acho que a música erudita, ou mesmo a música brasileira tem dimensões que o Pop não atinge e nem quer atingir. O ideal seria que tentássemos, ao menos em alguns momentos buscar essas dimensões.
Ou não, ninguém tem obrigação de gostar de nada, talvez o que você busque em música seja simplesmente diversão, distração, balanço, e eu não vejo nada de errado nisso. Mas se você é assim, tente, às vezes, dedicar um pouco do seu tempo a uma música mais reflexiva, isso faz bem. E não me venha com essa de "eu não tenho conhecimento suficiente para apreciar isso". Não tem que entender, basta ouvir. Se não gostar, ouça outra, são 700 anos de história que a gente encontra facilmente na própria intenet. Também se não quiser, não escute, ora!
É que eu tenho esse impulso de divulgar. Sabe quando você lê um livro e acha tão bom que quer que todos os seus amigos o leiam? Na música erudita tem coisas que me impressionam tanto que eu quero que toda a humanindade conheça. Com algumas excessões...

O Dilema

Mestre Rafael, você não falou que ia ter mulher pelada nessa droga? Cadê???!!! Pois meus amigos, vocês não sabem. Vejam como é a vida. Tenho um grande amigo que recentemente se voltou ao catolicismo. Ele é formado em jornalismo e escreve muito bem, nossas conversas sempre rendem frutos para um e para outro. Pois pedi que ele se tornasse colaborador da revista, o que no princípio ele aceitou com entusiasmo. Acontece que junto com o primeiro texto ele me manda o seguinte e-mail:

"Meu caríssimo Rafael
Envio o texto como prometido, mas te faço um apelo. Espero que entenda que se trata de uma questão de consciência. Eu não posso participar da Til se ela publicar imagens eróticas. Peço sua compreensão como acho que nunca pedi. Por favor, não entenda isto como uma censura ou uma pregação. Mas se eu fizer isso, eu teria que me acusar num confessionário, pois colaborei com uma proposta sobre a qual minha consciência discorda da correção.
Faço um humilde apelo de que homenageemos a mulher com imagens de moças bonitas vestidas, que na net não faltam (...) se eu creio firmemente num criador ao qual presto contas e a quem não posso ofender, a mão se recusa a ir adiante e a vontade deve ceder.
Sei que isso te obrigaria a mudar um plano original e ferir o plano editorial de tua revista. Se não for possível atender a meu pedido nem precisa se explicar é só dizer "não" e nossa amizade continua como antes. Sei que você deve levar as mão à cabeça agora: "por que a vida é tão difícil!"
Abaixo vai minha contribuição. Julgue se vale a pena..."

Minha resposta:

"Meu caro, estou pensando na sua proposta. Confesso que quando li seu e-mail achei graça. Não por deboche, mas por julgar que a questão era mais simples do que você parecia achar. Quebrei minha cara. Ela foi adquirindo proporções monstruosas na minha cabeça. Eu tô até assustado!
Por um lado não me custaria nada simplesmente não postar mulheres nuas. Ou melhor, fotos. Postar mulheres nuas ainda não é possível. Mas por outro eu começo a pensar coisas. Trata-se de uma questão pessoal sua que eu compreendo perfeitamente. Mas eu não posso abraçar a sua causa. Simplesmente porque não faz o menor sentido pra mim.
Vamos entrar um pouco na velha conversa sobre isso ser ou não uma exploração leviana do corpo feminino. Uma foto de um inseto ou do Cristo Redentor é o quê? Uma exploração? Por quê? Porque eles não tem como se defender da exposição? Mas se defender de quê? Para mim o corpo feminino e a estátua têm o mesmo valor estético (tá, confesso, tenho minhas preferências). A imagem de uma mulher nua não me levanta questionamentos, não me traz nenhuma carga moral. Pode até trazer dependendo do caso, mas a imagem de um trator também pode. Depois de meia hora de discussão concordaríamos que aquilo instiga o homem para o ato sexual. Mas e aí? O sexo não tem também valor moral negativo pra mim. Não tem nada de errado. Pelo menos entre dois adultos.
Aceito que você me dê esse ultimato como espero que você aceite minha resposta. Mas eu sempre achei que o ultimato tem algo errado. Não se trata de uma simplificação do ditado “os incomodados que se retirem”. Se os incomodados têm um bom argumento, sua opinião deve prevalecer e os “incomodadores” é que têm que se retirar. Mas você sabe que pra mim o seu argumento não serve. Serve pra ti, Helder. Tu pode até acreditar que essa é a grande verdade divina e olhar para mim com a mesma pena com que eu olho pra um fã da Madonna, mas eu sinto que posso explicar concretamente os motivos pelos quais a música que eu admiro é melhor que a dela. E posso explicar sem pedir para a pessoa simplesmente acreditar em mim. Sem pedir pra ela simplesmente aceitar aquilo. E sem dizer a ela que se ela não acreditar é porque lhe falta alguma grande compreensão da sua própria dimensão interna e da natureza do universo. Eu posso mostrar com as mãos, com os dedos, com uma folha de papel.
E aí tem outra questão. Se você não gosta não olhe! Você sempre vai ter essa opção. Você não está escrevendo sobre aquilo e nem divulgando. Seria como sair de um cinema porque tem um casal se esfregando lá dentro. Você poderia, teoricamente, conviver com isso sem se sentir tentado a olhar, mas não pode obrigar os outros a lhe seguir. Enfim, a minha atitude lhe dá liberdade, enquanto a sua me gera obstáculos. Pois lembre-se que as fotos serão pautadas pela qualidade plástica, não pela dose de erotismo. O vulgar não terá vez, e o erótico deixará de ser erótico.
Não me custa nada aceitar isso, mas se tu começar a fazer essas coisas, daqui a pouco vai dizer que tem que se desligar de mim pelo simples fato de eu manter relações sexuais sem propósitos reprodutivos. Você dirá que é aí que entra o bom senso, que você jamais faria isso e tal. Mas se você pensar bem a questão é a mesma.
Enfim, é uma discussão estéril. Isso nunca vai a lugar nenhum, mas por enquanto temos um problema prático nas mãos. Uma escolha. Cedo eu ou cede você. Um religioso que se preze jamais cede, lógico, o que deixa a decisão toda pra mim.
Ainda estou pensando, confesso que meio perdido. Mas vamos com calma que tudo se ajeita. Só o que me importa é saber que qualquer que seja a minha decisão a nossa amizade continuará intacta. Com isso eu posso contar, não é?

Grande abraço e que a luz caia sobre nós.

Rafa"

Perguntei a ele se poderia publicar os e-mails, pois acho que geram um bom debate. Ele autorizou. Contanto que eu não publique foto de mulher pelada.
Não perca os próximos capítulos desta dramática novela e veja qual será minha decisão.

Argonautas

Estes são os Argonautas. Eu no centro, Ayrton Pessoa no acordeom e Leonardo Torres no piano. Clique aqui e veja alguns exemplos de músicas do grupo.

Quem é Alan Mendonça

Quem é Alan Mendonça? É esse aqui, ora:

Margarida Flor

Será que o amor é uma ave viajante?

As águas de um rio, uma vazante?

Pode o amor se fazer brincante?

Ou será que o amor só é amor se for distante?


Será que o amor é um cavaleiro andante?

Será que o amor partiu numa volante?

Será que o amor se amarra num barbante?

Será que o amor é pequeno ou é gigante?


O amor suplica ou grita feito algum mandante?

Será que o amor dura muito no durante?

Pode o amor não ter corpo nem semblante?

Pode o amor aparecer e sumir cintilante?

Alan Mendonça


Alan Mendonça é um poeta cearense que tem muito a ver com a identidade dos Argonautas. Ele esteve presente desde a criação do grupo e a sua poesia nos ajudou a criar nossa identidade artística. O poema acima foi musicado pelo Ayrton Pessoa, assim que der eu mostro pra vocês. A música, não o Ayrton.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Ravel 4 - Daphnis et Chloé

Não dá pra falar de Ravel sem mencionar sua orquestração. A maneira como ele trata os instrumentos individualmente e como ele trabalha as infinitas combinações, criando massas sonoras inigualáveis, tornaram-no uma verdadeira lenda.
Se escutarmos apenas as flautas ou os violinos, a peça não faz sentido. É quando juntamos todos os instrumentos que ocorre a mágica.
Essa peça, que é o parte do balé Daphnis et Chloé descreve uma alvorada. Mas é a alvorada mais bonita que eu já vi. Vladimir Ashkenazy regendo a Orquestra Sinfônica NHK, do Japão.

Ravel 3 - La Valse (parte 2 de 2)

Aqui a parte final de La Valse. Nelson Freire e Martha Argerich, que conhecem a peça até de trás pra frente.

Ravel 3 - La Valse (parte 1 de 2)

La Valse descreve um baile, é uma homenagem de Ravel às valsas de Johan Strauss. Ela começa do silêncio, caótica, como uma memória antiga, e aos poucos vai ganhando corpo. À medida que progride, vai sendo tomada de um frenesi, uma selvageria que nunca cessa. Se música pode ser pungente, aqui está um exemplo acabado.

Ravel-Gaspard De La Nuit - Argerich 1/3

Já que falei de Ravel, vou mostrar um pouco mais dele. Esse vídeo mostra a genial Martha Argerich tocando Ondine, o primeiro movimento de Gaspard de la Nuit.
É uma obra impressionante! Vai muito além da simplicidade obsessiva do Bolero. Reparem na escrita para piano. É música insubstancial, feita não de notas, mas de fumaça. Ele faz uma referência à água passando por um riacho, com suas pequenas cascatas. Esse efeito, que muitos chamaram de 'impressionista' só pode ser atingido por um compositor muito familiarizado com o piano. E só pode ser tocada com tanta delicadeza por um pianista muito familiarizado com a obra de Ravel.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Coerência

Não me falta tempo para escrever a revista. Falta certeza. Eu sempre fui dos que precisam da certeza pra falar. Acumulo dados, vejo o outro lado das coisas, procuro descontaminar minhas opiniões...
Quando, por fim, peso tudo e me sinto satisfeito começo a escrever. Mas aí, enquanto escrevo antevejo as reações dos mais diversos grupos de potenciais leitores.
Vão achar que eu estou pegando no pé do Elton John (é a última vez que falo desse cara, juro... ao menos por enquanto). Que sou arrogante e me julgo sabedor da grande verdade universal?
Eu sou cuidadoso nas minhas análises e só espero que quando a revista for mais acessada, as respostas venham com essa mesma proposta e com essa mesma coerência.

***
Uma vez um leitor de revista perguntou ao Wagner Moura se ele não achava que essa linha de raciocínio do 'Tropa de Elite', que prega que a classe média tem culpa da violência urbana no Brasil, um pensamento fascista.
O Wagner (ator excepcional) deu uma resposta que até hoje eu estou tentando entender. “Talvez fascistas estejamos nos tornando nós, brasileiros, cidadãos carentes de uma política de segurança pública, que vemos naqueles policiais honestos, bem treinados, mas desrespeitadores dos direitos humanos, a solução para o caos em que estamos metidos”. Peraí: o brasileiro está se tornando fascista porque carece de uma política de segurança pública? Ou porque confia na polícia de elite? E isso é fascismo? Que diabo é isso?! Dá pra passar horas nessa frase... Mas não precisa nem ir tão fundo, a discussão já morre antes de começar.
O problema está na palavra 'fascista'. Para eles é apenas um xingamento, uma palavra com carga negativa que pode ser usada à vontade para se desmoralizar alguém.
Só que 'fascista' tem um significado bem claro. Não falo nem do significado literal da palavra, mas das conotações. Com o tempo o termo passou a designar qualquer sistema de governo que utilize a propaganda e a censura para reprimir todas as formas de oposição, que promova a xenofobia, o ultranacionalismo e uma espécie de 'divinização' do estado. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo).
Agora, o que é que isso tem a ver com a posição do filme sobre a responsabilidade em relação à violência urbana? É como chamar um motorista que lhe cortou no trânsito de 'usurpador'! Ou um fumante de 'ateu'! Um ladrão de 'homófobo'!
As discussões precisam ser mais gabaritadas para ter validade. No dia em que nós começarmos a entender isto e passarmos a tentar compreender melhor todas as situações, as soluções para qualquer problema surgirão de maneira mais rápida, honesta e efetiva.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Freire-Rachmaninov 1965

Certa vez George Gershwin foi a Paris e encontrou seu grande ídolo, Maurice Ravel. Pediu-lhe umas aulas de orquestração.
- Mas o senhor já não é um compositor famoso?
- Sim.
- E quanto o senhor ganha por ano?
- Um milhão de dólares.
- Então é o senhor que tem que me dar umas aulas.


***


Uma vez eu vi uma entrevista do Elton John falando sobre a sua obra. Ele mostrava trechos de suas canções e parecia absolutamente encantado consigo mesmo. Disse que costumava usar acordes inusitados, que ele conhecia graças à sua formação clássica. E para provar isso ele mostrava sua fantástica habilidade de por a terça no baixo.
O problema é que qualquer jegue que tenha aulas de música aprende isso em 30 segundos. Ele se considera um grande compositor, cantor e pianista.
Mas não estou aqui para esculhambar este nobre artista. Vim falar sobre Nelson Freire. Falar não, mostrar. Ele começou a estudar piano aos 4 anos. Uma semana depois, ultrapassou Elton John para sempre, mas o pop star deve ganhar 10 vezes mais dinheiro que ele.
Agora vocês me respondam: quem deveria dar aulas a quem? Vamos fazer as contas.
Elton John = 10 $ x 0,5 Talento
Nelson Freire = 1 $ x 10 Talento
Pelos meus cálculos o Nelson teria que dar uns 55 anos de aulas para o Elton. Mas não ia adiantar.
Sir Elton, observe e aprenda.

Frank

Minha mãe tem um amigo americano. Ele se chama Frank e costuma vir todo ano ao Brasil. Frank fala português até bem, e minha mãe fala um bocado de inglês. E eles vão ensinando um ao outro a melhorar o vocabulário. Ela sempre conta dos diálogos com ele.

- E esse tal de ´asshole´ que vocês tanto usam? O que é que significa?

- Cu, baby.

***

Uma vez os dois passavam por uma estrada no norte dos EUA. A uma certa altura Frank comentou:

- Baby, preste atenção dos dois lados, que nessa época do ano da pra ver muitos gays por aqui.

Minha mãe ficou curiosa. Por que diabo os gays ficavam na beira daquela estrada especificamente nessa época do ano?

- Gays?

- É. Eles vêm saltitando e às vezes atravessam a estrada. Muitos gays morrem atropelados todos os anos. Olha ali um.

E apontou para um veado. Na cabeça do Frank, se gay em português é viado, veado deve ser gay.

sábado, 1 de dezembro de 2007

A Revista Til

Esta é a revista til. Aqui eu divulgarei textos, fotos, vídeos, músicas e qualquer coisa que eu julgar interessante. Falarei também de Fortaleza, do Ceará e do Brasil; de música, teatro e cinema (agora, por exemplo, está passando Alien vs. Predador no FX. Um chimpanzé poderia ter escrito esse roteiro).
Vai ter também mulher pelada, portanto, se você for menor de idade, respire fundo e não olhe. Está cientificamente comprovado que um ser humano só tem capacidade de compreender um corpo feminino desnudo sem ficar traumatizado a partir do dia exato em que completa 18 anos (cof, cof). Aliás, muleque, desliga esse computador e vai ler um livro!

O Pintor

Aqui no Ceará, as pessoas do interior, das cidades mais isoladas que se pode imaginar, têm mais medo de lobisomem do que eu de assalto. Muitos acreditam mesmo. Eu já conheci um porteiro que jurava que tinha trabalhado para um fazendeiro que tinha estranhas feições lupinas e que sumia em noite de lua cheia. Esse diálogo aconteceu já faz alguns anos e foi meu irmão quem me contou. Tínhamos chamado um rapaz pra pintar a casa e ele costumava contar sobre a vida no interior.

- ... e onça, e cobra, e disco voador... Pra dormir no mei dos mato o neguim tem que ser macho. É um breu medonho que você num conta os dedo.

- E de que é que o senhor tinha mais medo?

- De lobisomem.

- Lobisomem?

- É, meu fi. No meu interior é só o que tem.

- E o senhor já viu um?

- Ora se não! (dicionário de Cearês: ora se não = sim, mas é claro) Nós saía era muito pra caçar. Vi uma vez, quando eu tinha a tua idade. Pense num bicho fei do diacho! Quando eu dei fé era aquela sombra correndo pra riba d´eu. Metemo bala, eu mais o cumpádi e o Chiquim. O bicho soltou um grito de gelar os couro e se embrenhou nos mato. Fiquemo uma semana sem dormir. Outra coisa que eu vi muito foi perna cabeluda. Com aquele olho no joelho e soltando fogo.

- Eita, mas o senhor acredita em tudo que é monstro, hein?

- Tudo não! Se tem uma coisa que eu não engulo é história de dinossauro. Num tem quem me faça acreditar nuns calango de dez metro de altura comendo os outro.

Argonautas tocam Edu Lobo e Chico Buarque - Meia-Noite

Eu sou músico. Estudo composição e tenho um grupo de Música Popular Brasileira chamado Argonautas. Nós tocamos músicas nossas e de compositores como Chico Buarque, Edu Lobo e Tom Jobim. À medida que o blog for progredindo eu vou mostrar um pouco da nossa música. Aí em cima tem um vídeo da gente tocando Meia-Noite, de Chico e Edu.